Morre Papa Francisco: o primeiro pontífice latino-americano e líder de uma Igreja em transformação

Morre Papa Francisco: o primeiro pontífice latino-americano e líder de uma Igreja em transformação

O Vaticano anunciou, na manhã desta segunda-feira, a morte do Papa Francisco, aos 87 anos. Primeiro pontífice latino-americano da história da Igreja Católica, Francisco faleceu às 7h35 na Casa Santa Marta, residência que escolheu para viver desde o início de seu papado, em 2013. A informação foi divulgada oficialmente pelo Cardeal Kevin Farrell, camerlengo da Câmara Apostólica.

“Com profundo pesar, anuncio a morte do nosso Santo Padre Francisco. Às 7h35 desta manhã, o bispo de Roma retornou à casa do Pai. Sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal”, declarou o cardeal.

Uma vida de simplicidade e serviço

Nascido Jorge Mario Bergoglio, em Buenos Aires, Argentina, Francisco foi o primeiro papa vindo da América Latina, o primeiro jesuíta e o primeiro a adotar o nome em homenagem a São Francisco de Assis — símbolo de humildade, desapego e compromisso com os pobres.

Ordenado padre em 1969, Bergoglio teve uma trajetória marcada pela atuação junto às comunidades mais vulneráveis. Foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires em 1998 e, em 2001, tornou-se cardeal por indicação do Papa João Paulo II. Em 2007, durante a Conferência de Aparecida, no Brasil, consolidou seu compromisso com uma Igreja missionária, voltada aos mais pobres.

O pontificado

Eleito papa em 2013, após a renúncia de Bento XVI, Francisco assumiu o comando da Igreja com a proposta de promover uma nova aproximação com o povo, renovando estruturas e enfrentando temas delicados como justiça social, meio ambiente, imigração e diálogo inter-religioso. Seu lema, Miserando atque eligendo (“Olhou-o com misericórdia e o escolheu”), resumiu sua visão pastoral de acolhimento e compaixão.

Francisco recusou-se a usar os luxuosos aposentos papais e optou por viver na Casa Santa Marta, adotando uma rotina simples que refletia sua visão de uma Igreja despojada e mais próxima dos fiéis.

Um legado de esperanças e controvérsias

O papado de Francisco foi marcado por avanços, mas também por debates dentro da Igreja. Ele defendeu mudanças como o acesso à comunhão por pessoas divorciadas, posicionamentos ambientais firmes, e maior acolhimento de grupos historicamente marginalizados, como migrantes e fiéis LGBTQIA+. Tais posturas conquistaram simpatia internacional, mas provocaram resistências entre setores mais conservadores do clero.

Algumas de suas decisões litúrgicas também foram alvo de polêmica. Em 2021, por exemplo, impôs restrições à celebração da missa em latim, prática tradicional entre católicos mais ortodoxos. Internamente, seus críticos apontavam uma suposta politização do papado e distanciamento das funções espirituais, ao passo que seus defensores viam nele um reformador necessário, empenhado em tornar a Igreja mais inclusiva.

E agora? Como será a sucessão

Com a morte do Papa Francisco, o Colégio de Cardeais iniciará o processo de sucessão papal. Nos próximos 15 a 20 dias, será convocado o conclave — reunião secreta na Capela Sistina — onde os cardeais votarão até que um novo Papa seja escolhido. São necessárias duas votações diárias e, para ser eleito, o candidato precisa de dois terços dos votos.

Enquanto isso, o corpo do Papa Francisco será velado na Basílica de São Pedro, durante um período de três a cinco dias, para que fiéis do mundo inteiro possam prestar suas homenagens.

A eleição de um novo papa será anunciada com a tradicional fumata branca — a fumaça branca que sairá da chaminé da Capela Sistina, sinalizando ao mundo: Habemus Papam! (“Temos um Papa!”).

Um adeus histórico

Para milhões de jovens e adultos que cresceram sob sua liderança, a despedida de Francisco representa a perda de um líder espiritual que buscou romper com formalismos e falar diretamente ao coração das pessoas. Seu legado está presente não apenas nos documentos e discursos, mas em gestos de humanidade, simplicidade e coragem.

Francisco deixa à Igreja Católica o desafio de continuar trilhando caminhos de diálogo, abertura e renovação, em um mundo cada vez mais fragmentado e desigual.