São Paulo expande em mais de 70% as instalações de acolhimento para pessoas que acabaram de sair de abrigos
A chegada de dezembro de 2023 gerava um misto de sentimentos no estudante Jeferson Rodrigo Silva, à época ainda menor de idade. Por um lado, ele completaria 18 anos e se tornaria oficialmente adulto. Por outro, desde os 16 anos em uma entidade de acolhimento para crianças e adolescentes, teria que deixar o local ao chegar à maioridade. Sem vínculo com familiares nem dinheiro para se manter, foi levado a considerar que a rua era a única perspectiva de futuro.
O alívio só veio com a notícia de que ele poderia ocupar uma das seis vagas da República Jovem no Arujá, região metropolitana de São Paulo. O serviço, cofinanciado pelo Governo de São Paulo por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDS), é destinado a indivíduos como Jeferson, recém-saídos de instituições de acolhimento para menores de idade. O Governo de São Paulo cofinancia hoje 38 unidades do serviço República Jovem. Em janeiro de 2023, eram 22, um aumento de 72,7%.
“O aumento expressivo da oferta desse serviço reafirma o compromisso do Governo de São Paulo com esses jovens em vulnerabilidade”, diz Andrezza Rosalém, secretária de Desenvolvimento Social. “Esses indivíduos recém-chegados à maioridade têm direito a uma vida digna para que possam dar continuidade ao próprio desenvolvimento em busca da autonomia, por meio dos estudos e da preparação para o ingresso no mercado de trabalho”, destaca.
Os acolhidos podem permanecer no serviço dos 18 até os 21 anos, onde têm direito à moradia e alimentação. No entanto, diferentemente dos que ocorre nos abrigos para crianças e adolescentes, em que funcionários cuidam da limpeza e do preparo das refeições, nas unidades do serviço República Jovem os afazeres domésticos ficam sob a responsabilidade dos próprios residentes. São eles que limpam a casa, cozinham e lavam suas roupas.
“É fornecido todo o material necessário, porém são os próprios jovens que realizam as tarefas do dia a dia”, explica Demétrio César Xavier, coordenador da República Jovem do Arujá. “Nós até explicamos como se faz. Mas o objetivo é que eles aprendam cada tarefa, para que se tornem independentes”, complementa. Demétrio é um dos quatro profissionais que trabalham na casa do Arujá. Há ainda um assistente social, um psicólogo e um orientador socioeducativo.
Conquista da autonomia
Fazer com que as meninas e os meninos conquistem a autonomia é uma das prioridades da República Jovem. Para isso, eles são incentivados a estudar, trabalhar e a poupar parte do que ganham. “Nós aconselhamos que pensem no futuro e guardem 40% dos salários para começarem as vidas quando saírem daqui”, explica Demétrio. Para possibilitar o acesso desses jovens aos demais serviços públicos, as casas de acolhimento ficam em localizações estratégicas, em áreas residenciais próximas de colégios e Unidades Básicas de Saúde.
Os jovens são estimulados ainda a aprender a conciliar as liberdades com as responsabilidades da vida adulta. Com a chave da República no bolso, eles podem dormir fora ou passar o dia na rua, e chegar no horário que quiserem. Mas precisam se submeter a regras. “Eles chegam aqui com a mentalidade dos abrigos, de serem tutelados. E nós temos que incentivá-los a se cuidar sozinhos, a encarar os vários lados da vida adulta”, destaca Demétrio.
Em cada unidade da República Jovem há um conjunto de normas a serem seguidas. No caso da unidade do Arujá, os residentes do acolhimento comprometem-se a cuidar da casa e são proibidos de consumir bebidas alcoólicas no local. “É como um contrato de convivência. Eles têm direitos e deveres, como qualquer adulto”, explica o coordenador.
Morador da República Jovem do Arujá desde janeiro de 2024, o estudante Jeferson já se acostumou com o espaço, cofinanciado pelo Governo de São Paulo conjuntamente com os municípios de Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Poá, Santa Isabel, Suzano e Arujá.
Para os que visitam o espaço, ele faz questão de mostrar o imóvel. São três suítes, cozinha, lavanderia e sala com mesa de jantar, sofá e televisão, além de um canto com computador com acesso à internet e quintal. Durante o trajeto, Jeferson agora se permite sonhar. E faz planos para o futuro: pretende se formar em pedagogia, virar professor de crianças e morar na praia.
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